RELATO DA PRÁTICA DOCENTE
Memórias literárias
Construindo e reconstruindo
saberes
Sou professora, e nessa Olimpíada de Língua Portuguesa, consegui com que
meu aluno fizesse uma viagem no mundo da imaginação de outras pessoas, conhecendo
suas histórias, e assim, fazendo uma ponte entre o passado e o presente. Isso
só pode acontecer através do gênero textual, “entrevista”. Antes mesmo de
realiza-la, os educandos já tinham escolhido a quem iam entrevistar.
Na ocasião, vamos relatar um pouco como foi desenvolvida a sequência didática
sobre o gênero Memórias Literárias em suas oficinas, nas quais vou me dedicar
em falar acerca das aulas práticas na construção dos conhecimentos. Após
apresentar o que íamos trabalhar no decorrer das oficinas, as turmas do 6º e 7º
anos ficaram surpresos porque nunca tinham ouvido falar do gênero “Memórias Literárias”.
Alguns deles, logo no início pensaram que não iam conseguir, pois achavam
difícil fazer a transição do gênero relatos de memórias para Memórias Literárias.
Mas com o desenvolvimento das oficinas fomos trabalhando essas dificuldades.
Então, para que a turma compreendesse melhor, pesquisei dois outros gêneros que
foram a biografia e a autobiografia com intuito de mostrar as diferenças entre
ambos. Entreguei-lhes um texto de cada gênero e fomos analisar em que pessoa
estava escrito cada um. A partir daí eles já compreenderam o que era primeira e
terceira pessoa, ou seja, o que os diferenciavam.
Na oficina seguinte, introduzi a coletânea de textos da Olimpíadas de
Língua Portuguesa com o intuito que os alunos percebessem suas semelhanças e
diferenças com o texto anterior estudado. Nos textos da coletânea foi observado
também as marcas do passado, onde introduzi o modo subjuntivo e os tempos
verbais presentes no gênero Memórias Literárias. Foi então que começamos a
pesquisa dos verbos no pretérito perfeito e imperfeito. Logo em seguida,
identificamos junto aos alunos no contexto em suas análises orais e escritas.
Alunos lendo as coletâneas das Olimpíadas de Língua Portuguesa |
Após a
conclusão das atividades supracitadas, fomos mais além das oficinas e passamos
o filme “Narradores de Javé” para as duas turmas. O objetivo desse vídeo foi
mostrar para os estudantes a importância do registro como documento. Logo após
o filme, fizemos uma roda de conversa e o que eles aprenderam em relação a
história assistida. Teve muitos comentários interessantes.
Enriquecendo ainda mais nossas oficinas, comecei falando de memórias e
dos tipos de memórias, as de longo prazo e de curto prazo. Perguntei oralmente,
o que eles lembravam quando criança e logo começaram a pensar e elucidar o que
lembravam. Também comparei a memória de curto prazo com um conteúdo que se
aprende apenas para fazer avaliações e depois que você termina, se passar um
dia e alguém fizer qualquer pergunta a respeito do assunto estudado ninguém
lembra a resposta. Já a memória de longo prazo, guarda tudo o que acha que é
importante, pois sabe que depois preciso lembrar. As discussões foram muito
instigantes e influenciaram para novas descobertas.
Assim, pedi para que os alunos duas turmas envolvidas no gênero “Memórias
Literárias” escrevessem sobre suas recordações. No 6º ano, a temática foi “Um
dia que marcou a minha vida”. Eles escolheram escrever uma memória boa e outra ruim.
Veja um dos textos abaixo:
Só uma observação: As produções deles são registradas de grafite para
juntos fazermos as intervenções, ou seja, as revisões sobre os conhecimentos
linguísticos. Faço-as individualmente para depois passarem a limpo com caneta.
Já a temática do sétimo ano para a produção
textual foi: Memórias: A minha infância
Alunos
produzindo o texto Memórias: A minha infância
Mostra de um dos textos produzidos
Logo após a construção dos textos, onde escreveram sobre os momentos de
suas vidas, mergulhando nas memórias de longo prazo, percebi o celeiro de histórias maravilhosas que saíram de cada um.
Depois aconteceu a hora das intervenções,
propondo melhorias para o seu texto, trocando algumas palavras repetidas por
sinônimos, e assim por diante. Esses momentos não foram tão fáceis, pois teve
alunos que resistiam em fazer essas correções, mas não desisti e fui sempre tentando,
até motivar as turmas a fazer a etapa da construção do saber.
Representação
das fotografias deles e dos amigos registrando imagens com cenas de memórias
Depois de vários estudos das oficinas e atividades desenvolvidas
começamos a organização para a elaboração do gênero textual, entrevista.
Estudamos como se organizam as questões e que perguntas inteligentes
estimulariam os entrevistadores a fazê-las. As primeiras entrevistas, foram
realizadas com familiares dos alunos, os mais idosos, tendo como tema: “Minha
infância”.
As elaboração das perguntas iam sendo construídas no grupão com a
participação de todos. De repente, nasceu o gênero textual organizado por eles
que era a entrevista. Algumas indagações
que o grupo elaborava nem todas eram aceitas por eles, refutando as menos
interessantes.
Na aula seguinte fizemos a retextualização, analisando juntamente com os
educandos os processos realizados de transformação da entrevista em uma memória
literária, obedecendo suas características, principalmente sua linguagem com
plurissignificação e o uso da conotação, deixando o texto mais florido para
quem vai entrar no mundo da imaginação que é a leitura desses belíssimos textos.
Além disso, trabalhamos o uso adequado dos sinais de pontuação no texto,
observando sua entonação na hora da leitura.
Primeiro
texto de Memórias Literárias produzido por eles.
Agora sim! Os discentes já estavam “prontos” para fazer a segunda
entrevista e o segundo texto, dos quais um seria escolhido para concorrer nas
Olimpíadas de Língua Portuguesa na escola. Na instituição escolar foram
realizadas duas entrevistas. Os alunos do 6º ano entrevistaram Dona Fátima, avó
de um aluno da turma, moradora das adjacências da escola e o sétimo optou em
entrevistar Hélio Tomaz, nascido na Fazenda Totoró. Mais uma vez, no grupão foram elaboradas
questões baseadas nas primeiras para serem realizadas nas entrevistas. O tema
escolhido foi a infância dos entrevistados.
Entrevistas
realizadas na escola com pessoas da comunidade
Entrevistas com Hélio Tomaz Entrevista com D. Fátima
Agora chegou a vez de vencer mais um desafio que é a hora de transformar
os registros da entrevista em um texto de Memória Literária. Escrevendo esse
gênero na primeira pessoa, organizando as vozes do entrevistado como se fossem
eles falando. Lembrando que ao escrever, os verbos devem estar no pretérito
perfeito e imperfeito, não esquecendo que o autor dessas memórias quando conta
suas histórias faz um elo com o presente.
Hora
da intervenção da professora com o aluno
Texto
das memórias literárias classificado na escola, município e estado
Depois da retextualização, vem a hora da intervenção. Nesse momento, a
correção é feita individualmente, é nessa ocasião que as dúvidas são tiradas em
relação a paragrafação, pontuação, sequência lógica de pensamentos, se o texto
realmente está escrito em primeira pessoa e se o uso dos verbos estão sendo
usados nos tempos predominantes do gênero Memórias Literárias, ou seja, se tudo
tem coerência e coesão. É um trabalho um pouco árduo, fazer toda essa transição,
mas no final quando se vê o resultado satisfatório em relação a aprendizagem é que
percebemos que valeu apena todos os esforços percorrido durante as Olimpíada de
Língua Portuguesa.
No decorrer das oficinas, aconteceram muitos aprendizados, deu para
observar essa evolução durante as leituras e produções textuais na hora das
intervenções quando a gente percebia um aluno ajudando o outro na reescrita da
sua produção. Dava para perceber o prazer que os estudantes sentiam ao realizar
as oficinas dessa sequência didática. E como diz Vygotsky (1980), “o
conhecimento pronto estanca o saber e a dúvida provoca a inteligência”.
Partindo dessa premissa, o que instigou o nosso aluno a aprender foi o
desequilíbrio do saber, o qual gerou dúvidas e a partir daí foram em busca de
soluções, despertando nos nossos discentes a inteligência para se chegar ao
aprendizado. A conclusão fantástica
desse processo foi a seguinte: não só os educandos aprenderam, mas eu também,
como mediadora do processo ensino-aprendizagem.
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