quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

MEMÓRIAS LITERÁRIAS


TEXTO CLASSIFICADO MEDALHA DE BRONZE NAS OLIMPÍADAS DE LÍNGUA PORTUGUESA EM 2019
Memórias Literárias
Janelas da minha infância
Início contando a história da minha vida, como se eu estivesse abrindo as janelas da minha infância. Foi um período muito difícil! Pois comecei a trabalhar no roçado, ajudando meu pai desde os meus seis anos de idade. Nessa época, não tinha tempo para brincar, a não ser nos dias de domingo ou nas boquinhas de noite (ao anoitecer).
Só comecei a estudar com oito anos de idade nessa mesma comunidade. Aqui à escola só tinha de primeiro ao quinto ano e era um só professor, tínhamos uma sala multisseriada. A escola não oferecia merenda e muitas crianças para estudar tinham que se deslocar até a mesma a pé. Diferente de hoje que os alunos têm carros para o deslocamento das comunidades até as instituições escolares.
A Fazenda Totoró, na minha infância era subdesenvolvida, pois não tínhamos energia elétrica e nem água encanada. A luz era lampião a gás e os banhos que tomávamos em nossa casas eram de cuia, (recipiente redondo e oco, fruto da cuieira ou coité) dificultando ainda mais à vida dos moradores da localidade.
Algumas das lembranças mais marcantes dessa época que aconteceram nesse lugar e que guardo em minha mente, foi até os dias de hoje foi uma grande chuva que deu no ano de 1974, enchendo o nosso açude que o mesmo chegou a uma grande sangria jamais vista neste local, chegando a altura de um metro e setenta e cinco. Esse ocorrido, logo causou muito medo aos moradores, pois todos ficaram com receio do reservatório não suportar tanta água! Porém, depois todos foram festejar tomando banho em sua sangria. Outra coisa que aconteceu de muito importante nessa comunidade foi nos anos 1980, a chegada da energia elétrica. Lembro-me como se fosse hoje! Brinquei até ás quatro horas da manhã com meus amigos que moravam perto. Nesse dia ninguém teve sono. Foi um momento memorável!
Como já falei, quando criança, quase não tínhamos tempo para brincar, vivíamos mais para trabalhar. Mas se bem me lembro quando tirávamos um tempinho para nossos entretenimentos é que só brincávamos de duas coisas que era de roladeira e andar de bicicleta. Para mim e meus amigos eram os melhores divertimentos!
Ainda, abrindo as janelas da minha infância que são minhas memórias, me vem uma outra lembrança muito marcante na minha vida de menino. Foi no dia em que eu soube que íamos à praia. De tão ansioso, fiquei dois dias sem dormir, só pensando na ideia de ir aquele lugar tão sonhado por mim! Quando cheguei lá, meus olhos não cabiam de felicidades! Sim, os meus olhos mesmos! Pois eles observavam aquela imensidão de água que não cabiam dentro dos mesmos! Fiquei encantado com tantas belezas! Foi realmente uma viagem inesquecível!
Em outra das minhas janelas, me traz saudosismo e vem a memória um dos cheiros que atribuo a minha vida de criança! É o cheiro da canjica no fogo e também o cheiro da galinha que minha mãe torrava na panela de barro! Só em lembrar chega a saborear com a mesma intensidade da minha infância. E outra coisa que me traz recordações e a traduzo como o gosto de saudade dessa época, é o cuscuz, feito com o milho de molho, a massa moída no moinho. O sabor e o cheiro desse delicioso alimento não tem como não ter saudade! Pois já não se faz mais cuscuz como antigamente! Hoje, compramos a massa pronta, o sabor e o aroma são muito diferentes!
Outro momento da minha infância que tenho saudades é da liberdade que tínhamos de ir e vir, pois naquela época quase não existia violência! A gente passava por muitas privações, mas podíamos andar sem muitas preocupações. Se eu pudesse, voltaria ao passado para resgatar e trazer para as crianças e juventude de hoje provar do sabor da liberdade. Esse hoje seria o meu maior desejo! Mas infelizmente, é apenas sonho.
Outra janelinha hoje, que eclode em mim são as lembranças das coisas que remetem a minha infância e ainda me restaram fisicamente.  Guardo-as para amenizar essa saudade! São as fotos em preto e branco e alguns documentos daquela época, onde preservo um pouco dessa minha história tão linda! Guardo tudo isso em uma caixinha em formato de coração. São coisas tão preciosas, elas têm um valor sentimental muito grande para mim! Por isso, zelo muito bem de todo esse afeto que de forma tão singular construiu a minha história de vida!!
(Texto baseado na entrevista realizada com o senhor, Hélio Tomaz de Araújo, 53 anos)


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